Quando alguém sofre uma amputação de membro inferior, o corpo irá começar a compensar a perda do membro. Entretanto, as estratégias compensatórias levam a hipertrofia muscular (aumento) ou atrofia (diminuição do tamanho), decorrente do uso excessivo ou insuficiente de músculos específicos.
Se você tem uma amputação de membro inferior ou conhece alguém, pode ter notado diferenças de volume no membro residual (coto), principalmente se já faz o uso de uma prótese ortopédica.
Estudos recentes publicados no “Journal of Biomechanics” buscou entender as diferenças que ocorrem no volume muscular do coto, em pessoas que tiveram a perda de membros inferiores. Os pesquisadores acreditam que as descobertas possam ajudar a melhorar técnicas cirúrgicas, a reabilitação de amputados e os próprios dispositivos protéticos.
Os pesquisadores buscaram medir as mudanças no tamanho do coto em pessoas que tiveram perda do membro acima e abaixo do joelho. Foi usado “ressonância magnética de alta resolução para determinar as mudanças de volume muscular e
prever essas mudanças usando o comprimento, altura, massa e largura do fêmur (osso do quadril ao joelho) e tíbia (o osso maior entre o joelho e o tornozelo).” (fonte: https://amputeestore.com/blogs/amputee-life/understanding-changes-in-lower-limb-muscle-volume-after-amputation )
Como foi realizado o estudo?
Participaram do estudo doze pessoas que sofreram perda de membros inferiores. Os dados destas pessoas foram comparados a outras seis pessoas de controle. Entre as pessoas de controle, com perda de membro unilateral abaixo do joelho, apresentaram perda de volume muscular em todo o membro residual (coto), enquanto que a perna do lado sadio teve pequenas alterações de volume.
Isso é a prova de uma estratégia de compensação dominada pela perna do lado sadio.
Agora, as pessoas de controle que perderam membros bilaterais acima do joelho, apresentaram um aumento significativo de volume muscular nos músculos adutores curtos. Os músculos adutores fazem a união das coxas à linha média do corpo. Há também uma diminuição considerável de volume nos músculos adutores mais longos, isquiotibiais (Os Isquiotibiais são um grupo de músculos localizados na parte posterior da coxa) e reto femoral. (O reto femoral tem origem na pelve, de forma que cruza duas articulações: o quadril e o joelho.)
Amputação unilateral abaixo do joelho
Após a execução de varreduras de ressonância magnética em ambos os grupos de controle e participantes do estudo, os pesquisadores constataram que o volume total do coto e as pequenas alterações de volume do lado sadio mostram uma estratégia de compensação dominada pela perna sadia. Entretanto, o reto femoral e os isquiotibiais laterais da perna intacta dos participantes eram consideravelmente menores do que os dos indivíduos de controle.
Outro ponto é que os pesquisadores descobriram que o glúteo médio dos participantes no membro residual era menor do que no membro sadio. Isso acontece devido aos movimentos de compensação que diminuem os movimentos externos ao redor do encaixe da prótese.
Por conta dessas estratégias compensatórias, existe uma ausência de geração de energia no joelho do membro residual na postura intermediária.
Amputação de membro acima do joelho
Com relação aos participantes com perda de membro bilateral acima do joelho, os pesquisadores descobriram uma estratégia de compensação que é dominada pelo glúteo médio (um dos músculos abaixo do músculo das nádegas), músculos adutores curtos e flexores do quadril. Enquanto os músculos localizados nas partes interna, média e externa da coxa tornam-se redundantes o que explica a redução significativa de volume na área.
Os resultados da pesquisa também mostraram que os isquiotibiais biarticulares nas pessoas com perda bilateral acima do joelho são significativamente reduzidos. Isso acontece porque os músculos normalmente não são usados com a mesma intensidade antes da perda do membro.
Em pessoas não amputadas, os isquiotibiais biarticulares são de extrema importãncia para manter a estabilidade postural. Ele controla e coordena as articulações do quadril e do joelho em resposta às mudanças nos movimentos da parte superior do corpo.
Enfim, os resultados da pesquisa mostraram aos pesquisadores que a perda de membros altera a função dos músculos, o que resulta em músculos mal utilizados. E a partir disso, mostrou-se a necessidade de investigar o papel desses músculos subutilizados no movimento do dia a dia de pessoas com perda de membros.
Outros estudos
De acordo com um outro estudo da Universidade Federal de Santa Catarina, mudanças na circunferência do coto podem estar relacionados a ganho de peso e podem causar desconforto, lesões ou até mesmo impossibilitar o uso da prótese, o que compromete a qualidade de vida da pessoa.
A redução no volume do coto irá fazer com que o encaixe fique frouxo, e se ficar, pode resultar em tensões concentradas nos tecidos moles, causando lesões.
Agora a expansão do volume do coto pode aumentar as pressões teciduais causando “oclusão do fluxo sanguíneo, restringir o retorno venoso e causar o acúmulo de resíduos celulares no membro.” (MARQUES, 2021, p.17)
Tanto a redução quanto a expansão do volume pode levar a lesões nos tecidos moles, que no caso de pessoas diabéticas pode ser muito danoso.
As mudanças de volume ocorrem ao longo do dia e depende de vários fatores como: tempo de uso da prótese, se a pessoa passou muito tempo em pé ou sentada, atividades físicas realizadas, alimentação e tabagismo.
As próteses podem se tornar desconfortáveis decorrente das mudanças de volume no coto, mudanças essas que ocorrem por diversos motivos como ganho ou perda de peso, inchaço ou até a própria conformação do coto.
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Referências Bibliográficas
https://amputeestore.com/blogs/amputee-life/understanding-changes-in-lower-limb-muscle-volume-after-amputation
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/227029/PGDE0216-D.pdf?sequence=-1&isAllowed=y